Saúde mental na era da crise climática: reflexões após as grandes enchentes no Rio Grande do Sul, Brasil
DOI:
https://doi.org/10.47626/ths-2025-0005Palavras-chave:
Mudanças climáticas, desastres ambientais, saúde mental, enchentes, populações vulneráveis, saúde planetária, ecoansiedadeResumo
As mudanças climáticas estão contribuindo cada vez mais para a frequência e intensidade de desastres naturais, sendo as enchentes os eventos climáticos extremos mais prevalentes globalmente. Este artigo examina a interseção entre as mudanças climáticas, no contexto da Época do Antropoceno, e a saúde mental, com foco nas devastadoras enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul, Brasil; destaca o campo emergente da saúde planetária, enfatizando a conexão intrínseca entre o bem-estar humano e a estabilidade ambiental; explora os efeitos das catástrofes climáticas na saúde mental, particularmente as enchentes, que estão associadas a níveis elevados de ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático e uso de substâncias; e traz exemplos de intervenções e projetos conduzidos por este grupo de pesquisa. A discussão se concentra nos efeitos psicológicos e sociais das enchentes sobre as comunidades afetadas, com atenção especial ao estresse cumulativo enfrentado por populações vulneráveis. Além disso, busca identificar lacunas nas pesquisas sobre os impactos de longo prazo na saúde mental, especialmente entre grupos marginalizados, como crianças, mulheres e comunidades indígenas, que são desproporcionalmente afetados por eventos climáticos. Ressalta, ainda, a importância de compreender tanto os efeitos diretos quanto os indiretos dos eventos climáticos na saúde mental, incluindo o deslocamento territorial e a disrupção comunitária. Este estudo clama por ações planetárias urgentes para mitigar os impactos na saúde mental associados aos desastres climáticos e destaca a necessidade de intervenções criativas, baseadas na comunidade que contemplem as dimensões psicossociais desses eventos. Ademais, defende políticas que priorizem a saúde mental nas respostas às mudanças climáticas, especialmente em regiões menos desenvolvidas, onde os recursos são escassos e a vulnerabilidade é maior. Reconhecendo que cada desastre climático adiciona camadas de estresse às populações já vulneráveis, enfatiza a importância da preparação prévia e das ações governamentais e sociais em conjunto com as comunidades afetadas. Mudanças eficazes nas organizações lideradas por humanos, com estratégias colaborativas para recuperação e resiliência a longo prazo, devem ser desenvolvidas tendo a saúde mental como ponto central. Essas mudanças devem ter como base a percepção, tão profundamente enraizada nos povos indígenas, de que somos parte da natureza. Nós somos natureza.